O Found Footage de horror constitui uma tendência estilística (ou subgênero) do horror audiovisual, na qual os filmes combinam forma documental (total ou parcialmente composta por filmagens com aparência e sonoridade acidentais, domésticas ou improvisadas de eventos extraordinários, só que feitas por personagens da ficção) e conteúdo ficcional. Em outras palavras: são filmes organizados a partir de falsos registros caseiros de natureza violenta e/ou sobrenatural. A estilística documental utilizada nesses filmes valoriza certa imperfeição formal, de modo a gerar no espectador a ilusão (muitas vezes consentida) de que cada um deles constitui um documento histórico – um registro não encenado de um pedaço de realidade.
Seja com milhões de dólares financiados por grandes estúdios de Hollywood ou com a câmera de um telefone celular emprestado por um amigo, falsos documentários de horror vêm sendo feitos nos lugares mais remotos, como Costa Rica, Egito, Ucrânia, Uruguai, Índia, China, Japão, Brasil e Estados Unidos. Alguns títulos, feitos com apoio de grandes estúdios de Hollywood ou produtoras ricas, ganham lançamentos com extravagantes estratégias de marketing, e são exibidos no circuito comercial de multiplexes; outros filmes – a grande maioria deles, na verdade – têm sido disponibilizados timidamente através da Internet, em serviços de streaming como Netflix, Amazon Prime Video, Hulu, ou diretamente no Vimeo ou no YouTube.
O Curso online FOUND FOOTAGE: O HORROR E A ESTÉTICA DA IMPERFEIÇÃO, de Rodrigo Carreiro, objetiva apresentar uma arqueologia completa do fenômeno dos filmes de falso found footage, indo desde os romances epistolares escritos na Idade Média até as narrativas audiovisuais que se passam inteiramente em telas de computadores pertencentes a personagens ficcionais. Além de contar a história expandida do found footage de horror, o curso vai discutir os motivos pelo quais os falsos found footage possuem vinculação tão estreita com as narrativas de horror (são raros em outros gêneros fílmicos), bem como as razões culturais, tecnológicas e afetivas pelas quais os espectadores se sentem tão à vontade diante desse tipo de filme. Para isso, exploraremos a estilística do gênero, discutindo em detalhes dois dos mais importantes filmes do filão (A Bruxa de Blair e o espanhol [Rec], de 2007), apresentando as ferramentas de estilo visual, narrativo e sonoro mais recorrentes do gênero, e a vinculação destas ferramentas ao conceito que chamamos de estética da imperfeição.
Conteúdos
Aula 1
A história expandida do found footage de horror.
Os romances
epistolares na Idade Média e o horror gótico no século XIX.
A
transmissão radiofônica da Guerra dos Mundos e os Highway Safety Films.
A febre dos snuff
movies e as narrativas audiovisuais em primeira pessoa.
Filmes
pioneiros dos anos 1980 e 1990.
A explosão
comercial do fenômeno na década de 2010.
Novas tecnologias.
Computer desktop films como um filão atualizado do falso found footage.
Filme em profundidade: A Bruxa de Blair (Eduardo Sanchéz e Daniel Myrick, EUA, 1999).
Aula 2
Recursos estilísticos do falso found footage de horror.
A poética da
câmera diegética.
A
incorporação de erros técnicos como ferramenta de simulação de verossimilhança.
A encenação
em profundidade e os planos-sequência.
Found
footage, emoção e o rosto do ator.
A ausência
de música e a mixagem concentrada em apenas um canal como estratégias de
realismo emocional.
A respiração
dos personagens e o afeto do espectador.
Filme em profundidade: [Rec] (Jaume Balagueró e Paco Plaza, Espanha, 2007).
Ministrante: Rodrigo Carreiro
Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre e Doutor em Comunicação (Cinema). Autor dos livros Era uma vez no spaghetti western: o estilo de Sergio Leone (Editora Estronho, 2014), A pós-produção de som no audiovisual brasileiro (Marca de Fantasia, 2019), O som do filme: uma introdução (EdUFPR / EdUFPE, 2018), A linguagem do cinema: uma introdução (Editora da UFPE, 2021) e O found footage de horror (Editora Estronho, 2021). A pesquisa que deu origem a este último livro, conduzida entre 2011 e 2021, fornece a base conceitual do curso. Já ministrou o curso Era Uma Vez no Spaghetti Western para a Cine UM.
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