

A construção social do gênero, entendida aqui como uma prática discursiva, consolidou-se ao longo do tempo por meio de múltiplos emissores. Quando associada à loucura no final do século XIX, essa construção ganhou reforço do saber médico, que legitimou cientificamente a dominação masculina ao vincular feminilidade e descontrole mental. Neste curso, o discurso sobre a loucura feminina será analisado a partir de um tríptico de filmes do cinema de terror estadunidense das décadas de 1960 e 1970. Utilizando as categorias foucaultianas de dispositivos, enunciados e práticas discursivas, os objetivos centrais são a observação, a identificação e a análise dos estereótipos de gênero e loucura que se manifestam nas personagens femininas dos filmes: O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962, Robert Aldrich); O Bebê de Rosemary (1968, Roman Polanski) e O Exorcista (1973, William Friedkin).



Os filmes serão tratados como documentos históricos, investigados através da análise das tecnologias de gênero – conceito desenvolvido por Teresa de Lauretis (1987) a partir das tecnologias sexuais de Foucault (1988). O intuito é examinar como o cinema de terror perpetuou uma tradição ancestral que associa as mulheres, tanto discursiva quanto imageticamente, ao mal e à anormalidade, além de explorar como o medo foi instrumentalizado a partir dos estereótipos da loucura feminina difundidos pelo discurso médico-psiquiátrico do século XIX.

Ao focar no cinema norte-americano das décadas de 60 e 70, buscaremos evidenciar que foi em um contexto de intensas lutas sociais por direitos que alguns dos maiores clássicos deste gênero foram criados. Também investigaremos como diferentes campos de atuação, como o religioso e o médico, foram mobilizados nestas películas visando reforçar hierarquias de gênero, tendo o campo cinematográfico como aliado. Temas associados ao feminino como a maternidade, sexualidade, comportamento e aparência serão abordados por meio dos Estudos de gênero e sexualidade, da História cultural, História das Mulheres e da Loucura.

Objetivos
O curso Loucura Feminina no Cinema: Discursos sobre Estereótipos de Gênero, ministrado por Muriel Rodrigues de Freitas, tem como objetivo central desnaturalizar a associação histórica entre feminilidade e desordem psíquica, investigando as origens e a perpetuação desse imaginário. Por meio da análise de personagens cinematográficas, serão identificados os repertórios discursivos que vinculam mulheres à loucura, bem como as estratégias narrativas e visuais que reforçam estereótipos, contextualizando-os em suas épocas de produção, e ainda as continuidades e rupturas dessa tradição no cinema de terror estadunidense das décadas de 1960 e 1970.

Conteúdos
Aula 1
- O que são dispositivos, enunciados e práticas
discursivas e como podemos identificá-las no cinema;
- Como discursos sobre as mulheres, o mal e a loucura
foram construídos ao longo da História?
- Apresentação dos filmes a serem analisados;
- Apresentação dos três eixos de análise: feminilidade
mal construída, sexualidade e maternidade;
- Análise de sequências a partir do eixo feminilidade mal construída (baseada no tripé beleza, idade e comportamento).

Aula 2
- Conhecer o conceito de Tecnologia de Gênero;
- Análise de sequências a partir do eixo sexualidade;
- Análise de sequências a partir do eixo maternidade;
- O horror e o medo no cinema como instrumentos
discursivos de violência de gênero.

Perfil: MURIEL RODRIGUES DE FREITAS
Professora
e historiadora, pesquisadora da História das Mulheres e da Loucura. Ministra
cursos e oficinas referentes aos discursos sobre violência de gênero a diversos
públicos: escolas, universidades, cursos de formação de juízes e magistrados,
pós-graduações na área da saúde entre outras. Mestra e doutora em História e
admiradora do cinema de Horror. Teve sua tese publicada em livro com o título “Irmã,
por que há sangue saindo da sua cabeça? Discursos sobre a loucura feminina nos
filmes O que terá acontecido a Baby Jane?, O bebê de Rosemary e O exorcista”.
